Os ideais que nortearam a vida de Nelson Mandela ecoaram ao longo do tempo e, hoje (18/07), foram o foco de um seminário, realizado para celebrar o dia do aniversário do líder sul-africano. O evento foi organizado pela Comissão de Articulação do Dia Nelson Mandela em Pernambuco e reuniu representantes de várias instituições públicas, de organizações da sociedade civil e de entidades privadas do Estado. Racismo e direitos humanos foram alguns dos temas abordados. O evento foi realizado no auditório da Ordem dos Advogados do Brasil em Pernambuco (OAB-PE) e contou com o apoio do Tribunal Regional Federal da 5ª Região - TRF5.  

A poesia do professor e pesquisador da cultura afro Severino Lepê abriu os debates. Em versos, ele contou a trajetória de Nelson Mandela, passando pela sua prisão e pela luta para unificar da África do Sul, em meio ao apartheid. Em seguida, o fundador do Instituto Brasil-África, João Bosco Monte, falou da sua relação com o país africano e da importância dos ideais de Mandela, a quem chamou de ‘ícone da reconciliação’. “A África do Sul e o povo sul-africano usam, hoje, expedientes das ações do Mandela que foram importantes, baseado na ideia de reconciliação”.  

Já a coordenadora da Rede de Mulheres de Comunidades Tradicionais, Maria Bernadete Lopes, ressaltou que “é preciso valorizar o que une, e não o que separa”, destacando entidades que trabalham em parceria com a comunidade quilombola. “Essa celebração nos chama à responsabilidade de refletir; nos chama à responsabilidade de se comprometer. Precisamos ter o compromisso de criar políticas de cultura antirracista”.  

A programação também contou com a participação da comunicadora social, ex-diplomata e ex-presidente da Fundação Cultural Palmares e da Comunidade de Países de Língua Portuguesa, Dulce Maria Pereira. Ela esteve na articulação da primeira visita de Mandela ao Brasil e relembrou momentos que marcaram a vinda dele ao país, bem como abordou a trajetória política do homenageado. “A capacidade de trazer, ao mesmo tempo, cumplicidade, luta contra a desumanização, a capacidade de construção, de reconciliação e de reparação foi o grande desafio de Mandela”.  

A procuradora de Justiça aposentada do Ministério Público de Pernambuco, Maria Bernadete Azevedo, também foi convidada para debater o tema do racismo. “Dentro do contexto geral de Direitos Humanos, se não realçarmos a importância do combate ao racismo, ele fica invisível”. Ela também apresentou marcos legais sobre o tema, como a Convenção Internacional sobre a Eliminação de Todas as Formas de Discriminação Racial.  

A última mesa de debates contou com a participação do secretário de Administração Penitenciária e Ressocialização de Pernambuco, Euclides Costa, e do representante do Centro de Memória do Tráfico Transatlântico de Africanos do Atlântico Sul em Pernambuco, Marcos Pereira. Para Marcos, Mandela é mais do que uma figura histórica. “Para nós, que somos dessa vertente da resistência e da luta de libertação, Mandela não é um mito; ele é uma referência, no Brasil e no mundo, da luta de libertação”. Pereira também falou sobre o racismo. “O racismo não é uma questão de relação social, é um instrumento de dominação política e de preservação de todo o patrimônio tirado do povo negro”. 

Já Euclides, fez uma correlação do que foi vivido por Mandela com a nossa realidade e falou da importância de seguir na luta contra o racismo. “Não temos o direito de cansar. Porque o racismo é diuturno, multifacetado”.  

No encerramento da programação, o procurador do Ministério Público do Trabalho Leonardo Osório, idealizador do evento, falou emocionado sobre Nelson Mandela. “Muito mais importante que homenageá-lo é falar do legado dele, por mais que ele mereça todas as homenagens possíveis e imagináveis. Mais importante do que o evento de hoje é criarmos uma corrente, criarmos um grupo onde possamos usar os ensinamentos de Nelson Mandela na construção de um mundo melhor”.  

Fórum de combate ao racismo 

Ao final da programação, houve o lançamento do oficial do Fórum de Combate ao Racismo em Pernambuco, que reúne mais de 30 instituições públicas, organizações da sociedade civil e entidades privadas do Estado. 

Dia Internacional Nelson Mandela  

Instituído pela Organização das Nações Unidas (ONU), em 2009, com apoio de 192 países-membros, é celebrado em 18 de julho, data de nascimento do líder sul-africano e ganhador do Prêmio Nobel da Paz de 1993. 

A iniciativa destaca a contribuição de Mandela para o fortalecimento da democracia e a promoção da cultura da paz no mundo. O dia convida os povos a refletirem sobre o legado de um dos maiores símbolos da luta por justiça e igualdade.